"A maleta do Sax" de papai, desgastada pelo tempo era guardada em cima do guarda-roupa no limiar da janela. Meu filho mais velho se traja à caipira, coloca a maleta debaixo do braço e vai para o palhoção. Nada me vem à memória no momento, só achei que ele ficou engraçado e alusivo às festas juninas.
No outro dia lá estava ela em cima da mesa "a maletinha". Ao vê-la, algo me fez lembrar, mas nada quis atinar. Milagrosamente retumbam quase sem parar tocantes recordações que me fez parar no tempo. Aquela maleta não mais guardava o "saxofone" dentro dela estava guardado um marasmo melancólico de lembranças que mais a mais me fascinavam ou fascinava, como num toque de mágica, ela na sua singeleza me conduziu num pequeno espaço voltar à minha vida de outrora.
Lembro quando eu era criança nos famosos circos que aqui chegavam. Papai como sempre tocava, era um dinheiro a mais que ele ganhava além do sax fazia uma linda apresentação tocando lindas canções no seu cavaquinho. Na época o artista que estava no auge era Luiz Gonzaga. Antes de começar o espetáculo se ouvia naquele som que parecia um funil xote, baião. Algodão, essa canção era a que mais tocava, da qual lembro mais. Tudo era mais bonito, era próprio da época. Na simplicidade mais parecia um "sonho de fadas". Não obstante a tanta beleza o que mais me encanta é a lembrança da minha infância. Outrora fui uma menina linda, com trancinhas, lindos vestidos que minha saudosa mãe mandava dona Onarina costurar e enfeitar com sianinhas. Recordo que ela morava na Rua Joaquim Nabuco. Nenê minha pagem fazia no meu cabelo duas tranças com laços coloridos. Lembro que ia para o circo com mamãe e papai e alguns amigos: Cleide irmã de Clívio e Sandoval. Naquela época o circo era uma grande diversão, as apresentações eram variadas, cada dia uma cena de teatro. Sandoval às vezes ia, eu ia todas as noites, mamãe me deixava ir com Nenê porque papai tocava. Como eu me lembro da saudosa Nenê, ela faz parte da minha infância; não sei se ainda está viva. Lembro que o espetáculo terminava altas horas.
É agora que a maleta do sax entra em cenário. Papai a pedido das moças e de algumas famílias fazia o trajeto de volta para casa tocando lindas canções e eu levava a lendária maleta. Essas lembranças ficam para sempre na nossa memória por ser criança não ligava talvez. Todavia com carinho as guardo com afinco no meu pequeno rincão a maletinha do sax e com ela a saudade recôndita de mim e da minha querida infância.